O JULGAMENTO DE PARIS E O
ESPUMANTE DA FRONTEIRA
FlávioMPinto
O Julgamento de Paris foi
considerado o embate, na realidade, uma degustação ás cegas, envolvendo vinhos
franceses e californianos em 1976.
O crescimento da
indústria vitivinicola da California nos anos 70 chamou a atenção de um
importante crítico e dono de um ponto de venda-a Academie Du Vin- em Paris.
Fez uma viagem
exploradora para conhecer o terroir, as vinícolas e seus vitinicultores e , é
óbvio, os vinhos californianos. Era um inglês que morava na França-Paris e
desconhecia a realidade daqueles produtores que já incomodavam a França em
alguns mercados. Sua formação era exclusivamente no mercado dominado pela
cultura francesa do vinho e não aceitava outras intromissões. Vivia o mundo do
vinho francês intensamente.
Acreditava que só os
franceses tivessem o vinho como paixão e descobriu na América , na Califórnia,
amantes do vinho do mesmo nível dos franceses. Apenas o tempo os diferenciava.
Não a paixão e a dedicação. Como era o ano do bicentenário da independência
americana, decidiu fazer uma competição entre os vinhos californianos
escolhidos por ele dentre os melhores e seus preferidos franceses. Seria uma
degustação ás cegas em Paris com degustadores franceses.
Pois bem, os
californianos ganharam o primeiro lugar nas três categorias: tintos, brancos e
rosés, para incredulidade dos tradicionais franceses.
Um fato semelhante
ocorreu , e está ocorrendo agora no Brasil. Os vinhos e espumantes da fronteira
oeste do Rio Grande do Sul, a região da campanha gaúcha, estão se destacando no
cenário nacional simplesmente porque o terroir é melhor e mais adequado para o plantio e cultivo de vitisviníferas, originando vinhos melhores
e mais finos. Os enólogos da fronteira não precisam se esforçar nem fazer
mágicas para produzir um vinho de
qualidade, pois tem um excelente terroir
de suporte.
Tanto os tintos como os
brancos e espumantes estão se destacando no cenário nacional e internacional
com uma produção que chegará nos calcanhares dos produtores da Serra gaúcha num
prazo não muito longo. O fator principal é a qualidade dos vinhos do Pampa.
É só uma questão de tempo
para as vinícolas da Campanha assumirem os primeiros lugares da produção
nacional de vinhos finos. A Serra ficará com as uvas para sucos, como foi bem
dito por um alto dirigente da Vinícola Salton, que já está investindo
barbaramente em Livramento.
A última mostra de
espumante do Brasil-2015- realizada na Serra gaúcha teve como destaque, o
primeiro dos melhores, dos cinco premiados com a medalha máxima, um
espumante Brut da Vinícola Nova Aliança
de Livramento. Foi vinificado na Serra, mas a matéria prima era do terroir do
Cerro da Cruz/Palomas em Livramento,
evidenciando a vocação daquela região para uvas brancas concorrendo diretamente
com os espumantes da Serra.
O terroir da Serra
gaúcha, Garibaldi, nunca havia sido confrontado com outro terroir , pois era
considerado, pelo mundo vitivinícola
brasileiro, como a casa do espumante
nacional.Era incontestável. Ali a Chardonnay reina.
Mas parece que a uva
francesa se aquerenciou e recebeu afagos na fronteira oeste do RS, ganhou novo
lar e está gerando espumantes muito
distintos, basta lembrar o sucesso dos produzidos pela Campos de Cima de Itaqui
e os da Guatambu de Dom Pedrito.
Isso é apenas o início e
o futuro está logo ali, pois o cenário da região da Campanha já é outro com os
vinhedos.
Os vinhos da Califórnia
são os ancestrais próximos dos vinhos da Campanha, mais especificamente de
Livramento.