quinta-feira, 29 de julho de 2010

TESTEMUNHOS DE CARÁTER

TESTEMUNHOS DE CARÁTER
FlavioMPinto

A muito se diz que “atos sem testemunhas são a maior expressão do caráter de uma pessoa”.
Uma dos maiores momentos de lisura, nas atitudes individuais, é a hora em que o homem se encontra só com sua consciência. Ele, e o que representa, sem absoluta falta de testemunhas para observar seu ato. A única testemunha é sua consciência.

No Brasil, um desses atos com maiores conseqüências, sem dúvida, é o voto secreto. Ali na cabine, onde o voto de um humilde se iguala a um portentoso, os covardes e irresponsáveis mostram toda sua fé alegando democracia. Estão sós com seus princípios e mais ninguém. E elegem verdadeiros crápulas. Isso vale para o cidadão comum no dia de votação e também para os edis nas seguidas votações legislativas. Observa-se com maior clareza em atos de menor potencial ofensivo-criminal cometidos diuturnamente pelo chamado gloriosamente de “povo”.

Immanuel Kant, em seu Metafísica da Ética: “Aja sempre de acordo com regras que você gostaria de ver todas as pessoas racionais seguindo como se fossem leis universais”
Aí ocorre o perigo, pois a consciência, educação e valores são diferentes em cada pessoa. Interesses, leniência, preguiça, má fé congênita, má intenção nas ações e pensamentos levam a resultados distintos daqueles que julgamos corretos, considerando esse livre arbítrio de cada pessoa. Podem ser corretos para uns e para outros, não. Mas quem somos nós para julgar?

Quem tirará a dúvida serão os valores universais de verdades eternas e exclusivamente reconhecidas.
Honestidade de princípios, lisura nas ações, sinceridade nos atos.
Nada pode ser mais idôneo do que um cidadão repleto de pensamentos e atitudes corretas. Algo que já vem de berço.
Nada melhor do que um cidadão de cara limpa, sem temor, olhando de frente quem comete delitos e policiando, com suas atitudes, quem tende a ludibriar a honestidade de princípios.

Vigie seus pensamentos, pois serão seus atos
Vigie seus atos, pois serão seu caráter!

terça-feira, 20 de julho de 2010

BEBER VINHO- In vino veritas

FlavioMPinto

Que todo bebedor de vinhos é um chato, é um fato. Digo aquele que o bebe, melhor dizendo, o degusta, ou desfruta.
Chato, porque sabe aproveitar as melhores qualidades do líquido procedente da maceração da uva e fermentação.
O que o torna um chato de galocha são os termos e as frescuras para beber e escolher um bom vinho.
“Ah, esse vinho é encorpado”, “ Aquele tem taninos intensos e na boca é volumoso deixando um retrogosto incrível”, “ Esse outro tem tons violáceos e apresenta nuances de flores silvestres, morango e abacaxi. Também de couro” e outras apreciações que deixam os mortais de boca aberta e zombando da gabolice do bebedor esnobe.

Não é á toa que o vinho é uma bebida diferenciada. Tem algo de nobreza no seu trato.
É a bebida mais antiga e mística do Universo. É a bebida dos deuses. É romântico. Desperta paixões.
Daí o trato com toda delicadeza e responsabilidade dos assuntos que o envolvem.
Beber uma taça de vinho não é simplesmente ingerir um líquido , mas um Ser vivo-obviamente os mais elegantes- que se superam com o tempo, respirando o oxigênio que lhe dá nova vida.
Degustá-lo é um verdadeiro passeio na história seja da uva que o fez como no local onde foi produzido.

domingo, 4 de julho de 2010

O DIA EM QUE PELÉ ESPREMEU A LARANJA

(O jogo que poderia ter acontecido)

FlavioMPinto

Tarde quente para os padrões londrinos. Céu cinzento, mas claro. O estádio de Wembley se preparava para seu último jogo de futebol e não era pouca coisa: a decisão da Copa do Mundo de Futebol entre Brasil e Holanda. A partir daí Wembley seria demolido para construção de moderna arena desportiva.
Gramado impecável, estádio lotado, torcedores atentos ao espetáculo que se avizinhava. Seria o confronto entre duas gerações distintas do futebol: de um lado o multicampeão Brasil com seu tradicional uniforme, jogadores e futebol reconhecidos, e do outro, a inovadora tática holandesa, que já estava sendo chamada de Carrossel holandês ou mesmo a Laranja mecânica, em alusão a cor de sua camisa.
O palco e platéia estavam a postos no maior cenário do futebol mundial. A mídia ansiosa esperava um embate de gigantes. Diziam que seria o fim de uma era: a do futebol tradicional.
É dado o apito inicial de jogo. Os holandeses, desde os primeiros minutos aplicavam com eficiência e constância a tática do impedimento, uma das maiores novidades. Os brasileiros pareciam atônitos e não conseguiam aproveitar siquer um lançamento de seus excelentes armadores. Eram colocados sistematicamente em situação irregular pelos alegres flamengos. Estes, não guardavam posições, girando como se fosse um verdadeiro carrossel sempre um cobrindo o outro numa mecânica que deixava os brasileiros a não saber quem marcar nem conseguir se articular adequadamente. Sempre havia jogador brasileiro marcado e dois a três holandeses desmarcados.
Pelé não conseguia fazer suas jogadas, pois atuava mais em socorro de seus companheiros ante a avassaladora massa de atacantes holandeses. Na hora de atacar, quase todos se convertiam em avantes. Terrível, porém não conseguiam converter sua tática em gols face a atuação do goleiro brasileiro.
Pelé permaneceu quase os cinco minutos finais do primeiro tempo dentro do círculo central, sendo até advertido pelo capitão do time, posto que deveria dar mais apoio ao meio-de-campo e a defesa. Era bola para lá bola para cá e o Rei do Futebol só correndo no círculo maior do campo. Parecia mais um espectador e não um jogador do time canarinho. Termina o primeiro tempo.
O time brasileiro sentiu-se aliviado, pois não conseguira encontrar seu futebol e a Holanda, como por milagre não estava vencendo. No vestiário o técnico do Brasil, apavorado, passa instruções e Pelé permanecia inquieto. Não falava. Parecia estar maquinando algo.
O Brasil dá o início ao segundo tempo. De posse da bola, um meia-direita brasileiro faz menção de lançar o ponta-direita e imediatamente a zaga laranja, em desabalada carreira sincronizada, se adianta deixando-o em posição de impedimento. Esse lance parecia repetir todo drama da primeira etapa.
Imediatamente Pelé fala com os outros jogadores do meio-de-campo, sai de sua posição de atacante e se posiciona entre eles. A bola não chega a ele imediatamente e quando chega os holandeses repetem a tática colocada em prática durante toda etapa inicial.
Pelé, no entanto, continua a correr somente próximo do círculo central, pouco se afastando, quando recebe uma bola afastada da defesa pelo alto.
Estava no campo brasileiro e ao “matar” a bola no peito, o ponta-direita já faz menção de lançar-se no ataque. A zaga e meio-campo holandeses preparam-se para deixar o avante brasileiro em situação irregular.
Pelé, no entanto, com a bola quase quicando no solo, os holandeses já corriam para deixar os brasileiros em impedimento, não lança seu companheiro, dá um toque para frente na bola e ultrapassa os adversários sem bola ficando com apenas o goleiro na sua frente. Foi uma cena inédita em que Pelé corria na direção do gol e na contrária todo time holandês. Gol do Brasil.1 a 0.
O time holandês continuou imperturbável mantendo o mesmo ritmo.
O tempo passa e o jogo fica nervoso para ambas equipes: os brasileiros não se acertando e os holandeses não transformando em gol suas iniciativas. Parecia manter-se o placar de 1 a 0.
Aos trinta minutos de jogo do segundo tempo, mais um lance genial do Rei Pelé.
Escanteio pela esquerda para o time canarinho.
A zaga holandesa rebate caindo a bola para Pelé na zona do agrião, entre a grande área e o meio de campo. Como uma blitz, cinco holandeses velozmente partem para cercá-lo. Com a bola dominada a sua frente, Pelé vira-se e ameaça partir na direção do campo brasileiro. Imediatamente os holandeses armam sua defesa pronta para deixar os adversários em impedimento. Neste momento, o Rei faz meia volta e novamente repete a jogada do primeiro gol: enquanto partem para deixar os brasileiros em impedimento, Pelé parte com a bola dominada na direção da área grande, mais uma vez somente com o goleiro pela frente. E sozinho faz mais um gol para o Brasil.
A tática do impedimento, verdadeiro terror dos atacantes adversários da Holanda, estava sendo derrubada pelo maior jogador de futebol de todos os tempos.
Brasil 2 a 0.