sexta-feira, 28 de maio de 2010

ALMADÉN-GAZAPINA

ALMADÉN-GAZAPINA.
FlavioMPinto

O mundo gira, evolui e se transforma, as coisas mudam e mudam. Progridem e regridem.
No universo dos vinhos, em especial os finos onde a tradição impera, no Brasil, mais especificamente na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, a modernidade ganha da tradição e com isso perde-se referências. Sem ganhos de qualidade, diga-se.
A Almadén é um desses casos. Indústria vinícola que desbravou a partir da década de 70 a nova fronteira vitivinícola gaúcha e brasileira, passa de mãos em mãos, de dono a dono e a cada um perde mais e mais referências do que conquistou.
National Distillers, Seagram, Pernot Ricard e agora a Miolo conduz a produção e a marca afora. Ninguém a quis. De pioneira na apresentação dos vinhos finos, referência em inúmeros pontos, passou, com os últimos donos, a fornecer vinhos populares e baratos. Assim são tratados no portfolio da indústria serrana e como bem é representado no rótulo preto, feio, brega, de gosto duvidoso dos últimos lançamentos.
Para quem foi preferência nacional num passado recente é um ato de imenso desprestigio. Não foi por causa da qualidade dos seus produtos que lá chegou. Talvez pela visão míope de marketing aliada a falta de investimentos e melhor distribuição no território nacional. Não, não foi isso. Uma vinícola e uma cidade de luto

A comunidade de Sant’Ana do Livramento ainda não esquece a explosão das caldeiras que destruiu a Cervejaria Gazapina, uma indústria santanense que produzia cervejas e chope de ótima qualidade e também refrigerantes. Foi-se uma marca, foram-se produtos. Não deixaram sucessores. Hoje é só saudade. Assim como o Lanifício Albornoz e o Armour.

A Almadén embalava os corações santanenses cheios de orgulho por possuírem uma indústria de ponta, uma indústria que capitaneava e ditava o bom gosto no seu setor no país. Liderava pela qualidade dos seus produtos e alavancava o nome da cidade fronteiriça Brasil afora com o Cerro de Palomas estampado no rótulo dos seus vinhos finos. Graças a ela a cidade ganhou um cacho de uvas no estandarte municipal.
Mas ficará conhecida por haver produzido excelentes vinhos finos na “cidade do já era”.
Talvez os novos donos tenham acertado a mão, considerando que a maioria dos brasileiros compra pelo preço e não pela qualidade. E gosto é gosto, não se discute e pronto.
A diferença é que existem indústrias sucessoras de qualidade para aproveitar o terroir santanense.
E o paralelo 31 não irá desaparecer.