segunda-feira, 10 de maio de 2010

O VÔO

Aguaclépio queria porque queria viajar para o Rio de Janeiro.
- Pôs, quero conhecer esse tal de Rio de Janeiro. O meu pai foi um dos que amarraram o cavalo na estátua. Quero conhecer e pronto!
Convenceu o filho a bancar uma passagem, ida e volta, claro, era tempo de tosquia e tinha de voltar para a estância.
Colocou a melhor pilcha na malinha de couro marrom, bombacha, lenço colorado, cuia, bomba, e se tocou para Porto Alegre. Lá chegando, correu até a estátua do Laçador para pedir uma benção antes de partir.
Os problemas começaram na sala de embarque: teve de tirar as botas, a guaiaca, a faca, as esporas, a bomba do chimarrão, o anel e o relógio Oméga para passar incólume pelo detector de metais.
Só não tirou o dente de ouro. Bom aí já era demais. Mas passou na prova.
Mal se abarcou no assento, baixou o encosto e já foi admoestado pela aeromoça.: tinha que colocá-lo na vertical até a decolagem.
- De...o quê, minha filha?
- Decolagem, senhor, o avião subir, voar.
- Ah, sim, mas não sobe muito que tenho vertigem, moça.

Logo após a decolagem e o vôo se estabilizar, o piloto informa aos passageiros:
- Este é o vôo 3410 da TAM e aproximadamente 1 hora e 30 minutos pousaremos no aeroporto Antonio Carlos Jobim....
- O quê? Pára isso que eu quero descer! Grita Aguaclépio tentando se soltar do cinto de segurança.
- Mas o que ouve, senhor? Pergunta a aeromoça.
- Comprei passagem para o Galhão e não para esse tal de Jobim!
- Não se preocupe, é o mesmo lugar.
- Não é, não, responde um nervoso Aguaclépio.
- Como o senhor se chama?
- Aguaclépio, e sou capataz da Estância Petiço Molhado, a seu dispor.
- Aguarde que vamos resolver esse problema, seu Aguaclépio.

A aeromoça vendo a agitação e preocupação de Aguaclépio se encaminha até a cabine dos pilotos.

Logo novamente nos altofalantes da aeronave se ouve o piloto.
- Benvindos a bordo do jato A320 da TAM. Daqui a pouco pousaremos no aeroporto do Galeão a pedido do senhor Aguaclépio. Boa viagem
- Não te disse, índio veio. Te mete. Tô com tudo, fala Aguaclépio para o vizinho de poltrona.
Logo chega a aeromoça.
- E aí, seu Aguaclépio, satisfeito?
- Claro, moça, só não me pede para apertar o cinto que a guaiaca já está no último furo!