segunda-feira, 21 de outubro de 2013

BEBENDO VINHOS E DEGUSTANDO HISTÓRIA


BEBENDO VINHOS E DEGUSTANDO HISTÓRIA

FlávioMPinto

Outro dia, em visita á fronteira, passeando pelas gôndolas de vinhos do Siñeriz Freeshop, em Rivera-Uruguai, encontrei vinhos que me levaram a uma viagem quase mil anos atrás. Foi a época dos Templários, lá pelos anos 1200. Época em que os Templários eram uma potência militar, religiosa e financeira.

Pois bem, me deparei com o Pape Clément, um tinto de Pessac  Leognan em Bordeaux, mais especificamente de Graves no Médoc. No contrarrótulo sua origem: eram uvas de terras originalmente pertencentes a Bertrand de Goth.

Aí tem início uma longa estória. Felipe IV, o Belo, rei da França era um rei devedor dos financistas da época, particularmente composta por protestantes e a Ordem dos Cavaleiros Templários. A eles devia terras, propriedades e muito dinheiro. Entre 1290 e 1300, arquitetou um plano de saldar suas dívidas com os protestantes. Simplesmente prendeu-os sob inúmeras acusações e extinguiu o que devia a eles. Contra os Templários pouco poderia fazer, pois estes só deviam obediência ao Papa, além de serem muito poderosos militarmente. Mais uma vez, maquiavelicamente planejou ter um Papa sob sua batuta e conseguiu, colocando, como tal, Bertrand de Goth,  o bispo de Saint-Bertrand-de-Comminges , uma comuna nos Pireneus franceses, localizada no departamento da Alta Garona, região dos Médios Pirenéus.

Este vinho não me trouxe boas recordações históricas, pois Clément V, nome adotado por Bertrand de Goth no papado, foi o Papa que exterminou os Templários com alegações falsas forjadas por Felipe, o Belo e seu Guarda Selos( ministro da Justiça)Guillaume de Nogaret, condenando-os á prisão perpétua ou a fogueira como Jacques de Molay, grão mestre da Ordem dos Templários. Na fogueira, a 18 de março de 1314, De Molay rogou uma praga aos tres algozes( Felipe, Clément e Nogaret), intimando-os a comparecer ao tribunal de Deus para o ajuste de contas naquele mesmo ano e os tres morreram no mesmo ano em que o grão mestre foi condenado, cumprindo-se a professia do grão mestre templário. Uma de suas primeiras providências ( de Clement V) foi transferir o papado de Roma para Avignon. O Châteauneuf-du pape, o castelo que começou a ser construído para o papa marcou uma região. Clément morreu, mas de Bispo maldito deu origem a uma AOC  em Graves e seu castelo á prestigiada AOC Châteauneuf-du-pape no Vale do Rhône, a maior grife de vinhos franceses.

A esta altura, os templários já tinham iniciado sua fuga pela vida onde houvesse perseguição por seguidores de Felipe.  

Um templário vindo da Pérsia, fez sua morada numa ermida perto de Dijon, França. Com videiras que se presume sejam das aclamadas Syrah ou Shiraz, cidade da Pèrsia de onde teria vindo, conseguiu frutificá-las a ponto de torná-las as uvas emblemáticas do  Vale do Rhône e dando origem a cidade de Hermitage, berço da Syrah ou Shiraz e de suas AOC.

Vimos, portanto, duas AOC e uma casta emblemáticas para a vitivinicultura francesa e muita história e estórias.