BEBENDO VINHOS E DEGUSTANDO HISTÓRIA
FlávioMPinto
Outro dia, em visita á fronteira, passeando pelas gôndolas de
vinhos do Siñeriz Freeshop, em Rivera-Uruguai, encontrei vinhos que me levaram
a uma viagem quase mil anos atrás. Foi a época dos Templários, lá pelos anos
1200. Época em que os Templários eram uma potência militar, religiosa e
financeira.
Pois bem, me deparei com o Pape Clément, um tinto de
Pessac Leognan em Bordeaux, mais
especificamente de Graves no Médoc. No contrarrótulo sua origem: eram uvas de
terras originalmente pertencentes a Bertrand de Goth.
Aí tem início uma longa estória. Felipe IV, o Belo, rei da
França era um rei devedor dos financistas da época, particularmente composta
por protestantes e a Ordem dos Cavaleiros Templários. A eles devia terras,
propriedades e muito dinheiro. Entre 1290 e 1300, arquitetou um plano de saldar
suas dívidas com os protestantes. Simplesmente prendeu-os sob inúmeras
acusações e extinguiu o que devia a eles. Contra os Templários pouco poderia fazer,
pois estes só deviam obediência ao Papa, além de serem muito poderosos
militarmente. Mais uma vez, maquiavelicamente planejou ter um Papa sob sua
batuta e conseguiu, colocando, como
tal, Bertrand de Goth, o bispo de Saint-Bertrand-de-Comminges , uma comuna nos Pireneus franceses, localizada no departamento da Alta Garona, região dos Médios
Pirenéus.
Este vinho não me
trouxe boas recordações históricas, pois Clément V, nome adotado por Bertrand
de Goth no papado, foi o Papa que exterminou os Templários com alegações falsas
forjadas por Felipe, o Belo e seu Guarda Selos( ministro da Justiça)Guillaume
de Nogaret, condenando-os á prisão perpétua ou a fogueira como Jacques de
Molay, grão mestre da Ordem dos Templários. Na fogueira, a 18 de março de 1314,
De Molay rogou uma praga aos tres algozes( Felipe, Clément e Nogaret),
intimando-os a comparecer ao tribunal de Deus para o ajuste de contas naquele
mesmo ano e os tres morreram no mesmo ano em que o grão mestre foi condenado,
cumprindo-se a professia do grão mestre templário. Uma de suas primeiras
providências ( de Clement V) foi transferir o papado de Roma para Avignon. O Châteauneuf-du
pape, o castelo que começou a ser construído para o papa marcou uma região.
Clément morreu, mas de Bispo maldito deu origem a uma AOC em Graves e seu castelo á prestigiada AOC
Châteauneuf-du-pape no Vale do Rhône, a maior grife de vinhos franceses.
A esta altura, os
templários já tinham iniciado sua fuga pela vida onde houvesse perseguição por
seguidores de Felipe.
Um templário
vindo da Pérsia, fez sua morada numa ermida perto de Dijon, França. Com
videiras que se presume sejam das aclamadas Syrah ou Shiraz, cidade da Pèrsia
de onde teria vindo, conseguiu frutificá-las a ponto de torná-las as uvas
emblemáticas do Vale do Rhône e dando
origem a cidade de Hermitage, berço da Syrah ou Shiraz e de suas AOC.
Vimos, portanto,
duas AOC e uma casta emblemáticas para a vitivinicultura francesa e muita
história e estórias.