ESTRAGOU? CONSERTE!
FlavioMPinto
Mais uma vez um conhecido me cobrou uma atitude do grupo militar ante o descalabro que passa o Brasil atualmente.
Mais uma vez, sim, pois não foi na primeira, que triste e indignadamente me cobrou. Apresentou seus argumentos batendo incisivamente na história, na reconhecida capacidade de organização e firmes princípios da caserna.
- O que os militares podem fazer na atual conjuntura? Respondi.
Não teria como lhe contradizer, mas disse-lhe que os militares de hoje são diferentes dos de ontem e expliquei porquê.
Quais foram e motivações das últimas intervenções militares na vida da sociedade política brasileira?
O que conseguiram?
O que desejavam os tenentes do século passado? Conseguiram o que pretendiam?
E em 45 ao retirarem Getúlio do poder?
E em 64? Qual foi o ganho para o país? Ganharam reconhecimento?
Muito pelo contrário, após todas as intervenções salvadoras retirando políticos corruptos e organizando e saneando a vida política da nação os militares foram relegados. Considerados até culpados. Foram traídos e engoliram sapos.
E chegamos aos dias de hoje com a mais brutal selvageria moral imperando na nação tendo como exemplos marcantes a presidência da república.
Inúmeras intervenções para quê?
Não, respondi ao conhecido, os militares não mudaram e sim aprenderam que só devem se meter em seus assuntos.
Chega de ser a palmatória. E nisso agora são diferentes.
“Já viste militar norte-americano metido em política?” perguntei.
Pois bem, lá nos EUA, não se misturam as coisas. Cada um no seu lugar. Portanto, acredito que aos militares brasileiros de agora estão dando uma boa resposta ao procedimento da sociedade em patrocinar tamanhas atitudes.
Quartel não é reformatório, relembrei o que sempre falei a meus subordinados quando nos deparávamos com recrutas, principalmente, incapazes de assimilar nossa conduta e normas e desejosos de manter sua indisciplina civil.
Quem assimila a disciplina militar a leva para sua vida e não esquece os princípios básicos. E não cabe ao quartel educar toda sociedade e seus problemas ela é que tem de resolver. Nem teria condições.
E aí chegamos ao descalabro de hoje. O que mais se constata são ações de desvio de caráter.
Os militares de hoje entenderam que a educação da sociedade e organização e disciplinamento do país não depende deles e esta transformação tem de partir dela. É a família, a escola, e aí o quartel não se mete. Não teria porquê.
Nesta quadra histórica, o Brasil tem mostrado ao mundo o que é sua sociedade. Insensível a bons exemplos, ignorante, analfabeta, pavoneada pelo sucesso econômico confunde ser potência e desenvolvida, tudo que a vulgaridade aceita como sua. É a imagem trazida pelos novos tempos que mais calou fundo a mentalidade brasileira.
É o Macunaíma renascido e vivificado. É um personagem que apenas precisava um sopro de vida.
Não, as Forças Armadas se negam a pertencer a esse horripilante quadro. São vinho de outra pipa. Embora, quando no comando dos destinos da nação tivessem havido alguns descaminhos por alguns integrantes, essa mentalidade macunaíma fascista e ditatorial que hoje impera não faz parte do seu cotidiano.
Nem casos, como do partido que atualmente está no centro do governo que prometeu , durante os últimos congressos do Foro de São Paulo, extirpar a oposição e assim o fez em Santa Catarina, o prócer máximo da nação ao referir-se ao DEM. Nos governos militares a oposição existia e atuava. E como.
Não, não e não, As Forças Armadas lutam desde muito tempo, e particularmente desde o governo FHC, responsável por todo esse caos que enfrentamos, contra as parcas verbas para seu sustento e não gostariam de abrir mais uma frente. Numa das maiores crises do governo, FHC chegou ao ponto de cortar verbas das Forças Armadas impedindo-as de atuar constitucionalmente, caso fosse necessário.
A sociedade que fique com seus procedimentos, modus operandi, ídolos e deixe os militares em paz.
Os militares de hoje continuam com a sua mesma forma de recrutamento, seleção, formação e mentalidade. Eles conhecem o Brasil, sabem dos seus problemas como ninguém e sabem que compõem a sociedade, posto que suas famílias a integram, mas não se fazem presentes nos seus atos tresloucados, particularmente, nesta quadra histórica de péssimos exemplos dados pela cúpula do governo e seus militantes.
E esse legado não foi deixado por eles.
Seguem o exemplo de Caxias que nos obsequiava com seu silêncio exemplar.
Por fim, lembrei que os militares são comandados pelo exemplo que vem de cima.
Que os maus brasileiros fiquem longe dos quartéis.
Quem pariu Mateus que o embale! Finalizei.
Obs- É bom lembrar que a música executada pela banda militar na chegada do presidente Lula no palanque oficial, no dia do desfile militar de 07 de setembro de 2010 em Brasília, foi "Cego, Surdo e Mudo", da cantora Lady Gaga