EU SOU BAGUAL!
FlávioMPinto
O sucesso da música e a euforia da cidade com ela nos leva
tecer algumas considerações. Evidentemente é uma boa música com forte apelo
emocional e comercial. “Diário de fronteiriço” é mais linda ainda.
Mas ambas reforçam a imagem de cidadão grosso e estúpido, no
pior sentido, como típico morador da cidade.
Diário de Fronteiriço diz até que ele é “ meio gente, meio
bicho, duro de queixo”. Mesmo pilchado a capricho nada desfaz o que a música
fala do santanense. E um cidadão estúpido e grosso, mal educado e
desrespeitador tem sua imagem levada pela mídia mundo afora.
Não acredito que essa seja a imagem real do santanense,
embora entenda e saiba que quem quer progredir sai da cidade e vai beber
cultura e educação além de trabalho em
outras paragens. Daí o imenso contingente santanense fora da cidade.
Também entendo que é uma linguagem poética, uma forma de se
referir ao santanense como cultuador de suas tradições mais caras. No entanto
reforça o estereotipo de um sujeito grosso, mal educado, não afeito a regras
nem a disciplina. Faz o que quer da sua cabeça inquieta.
“Nada me maneia” é um dos refrões da vida do cidadão bagual.
Um cidadão sem freios para segurar seus esperneios ante a sociedade organizada.
Qual sociedade organizada deseja conviver no seu seio com
tipos desta espécie? Mesmo convivendo, ela irá para frente? Com cidadãos “duros
de queixo”?
Com pessoas tipo bagual nenhuma sociedade progride,
explicando muitas coisas inexplicáveis que acontecem, e deixam de acontecer, na
cidade de Santana do Livramento-RS.
“Não creio em china chorona nem égua
de cola erguida
Sou um bagual solto de pata
relinxando pela vida
Ninguém me grita buraco se estou de
guampa torcida
Gaudério de rumo incerto não tá
ligando pra vida
Sou touro e não sou terneiro, como
sal em qualquer coxo
Vaca não berra comigo e não corro de
touro moxo!
Não creio em china chorona nem égua
de cola erguida
Sou um bagual solto de pata
relinxando pela vida.”
( do saudoso Leonardo)
Canções desse quilate fazem mais estragos naquelas pessoas
que ainda tem a cidade e seu povo em larga conta.
É isso aí!