CRÔNICA PARISIENSE
FlavioMPinto
Em pouco mais de 24 horas, já entendi o que faz de Paris a cidade-luz e destino da maior parte do turismo mundial. É uma cidade monumento para ninguém botar defeito. A cidade que mostra, além de ser um museu a céu aberto, que as soluções para tal ressaltam a olhos vistos tudo que a transforma em ouro.
A Torre Eiffel, por exemplo, como seu maior cartão de visitas, recebe milhares de turistas o dia todo, sete dias por semana, 365 dias por ano, na mais perfeita ordem e respeito, a despeito das enormes filas. Mas vale a pena, até para saber que braços de uma ponte a constituem. Sim, a torre é nada mais do que os braços de uma ponte portuguesa perfeitamente interligados.
Ruas limpas, trânsito legal sem guardas á vista controlando, imóveis sem pixação, sinalização urbana perfeita e bem visível, motoristas respeitadores das leis, fazem-nos como a andar numa passarela motorizada seja de carro ou ônibus. E até a pé.
Porém, o que faz tudo isso girar e acontecer é o comportamento do seu povo. Algo que nos separa brutalmente e causa inveja. É algo chamado educação. Não aquela das matemáticas e outras ciências, das línguas. É a do respeito a tudo que cerca a vida do cidadão. Desde o mais simples lugar num coletivo e na escada rolante passando pela história do país e as paredes de um museu escondido.
Uma cena exemplar: estava na frente do Louvre para atravessar um cruzamento movimentado na Av Rivoli. Observava o trânsito, quando surge um Citroen C4 preto com um senhor e pára com o braço para fora do carro bem do meu lado. Usava um Rolex. Eis que surge um metido Smart for Two e pára atravessado fazendo fila dupla bem ao lado esquerdo do Citroen, que era o primeiro próximo ao sinal. O senhor do Citroen apenas olhou para o motorista do Smart e saiu tranqüilo após abrir o sinal. Não é preciso dizer que, o dono do Smart, esperou todos da fila passarem para passar o sinal. No Brasil, no mínimo teriam acontecido dois fatos: o senhor do Citroen teria seu relógio roubado e o motorista do Smart furado a fila sem antes debochar e chamar de babaca os outros motoristas.
Outro fato: estava no Arco do Triunfo quando se aproximava uma tropa da Legião Estrangeira pela Av Champs Elysées. Na sua cadência lenta, compassada e imponente, na mais importante via parisiense, a respeitada tropa avançava sem ninguém que balizasse seu deslocamento: a medida que avançava, os carros iam parando, numa reverência ímpar. No Brasil.....Lá ninguém se atreveria.
Respeito aliado a perfeita noção de cidadania, que se observa até nas greves: são informadas e todos tomam sua providências, sem danos para suas atividades. E os grevistas cumprem o que prometem. Não é como aqui onde os direitos são colocados acima dos deveres e da responsabilidade de cada um.
Cada museu parisiense revela que estamos a no mínimo 221 anos atrás dos franceses. Querer chegar a 5ª potência mundial na próxima década, como li numa propaganda de uma agência de auditoria num protetor de cabeça num avião, é de uma ingenuidade sem tamanho. E uma brincadeira de mau gosto totalmente fora de propósitos. Despropositada e sem os pés no chão. Quem fez a propaganda desconhece o mundo que vivemos. Menos ainda o Brasil de hoje.
Os museus franceses nos dão a diferença: educação, respeito, cidadania, humanidade e profundo interesse pela história do país e por quem a fez. Não aquela história manipulada ideologicamente, e sim aquela verdadeiramente contada por aqueles que a viveram e que os de agora não deixam mudar no tempo.
Paris, Mars 2010