A MINHA EXPERIÊNCIA COM O AVC!
FlávioMPinto
Em agosto de 2004 tive um AVC, no início da madrugada de um sábado para domingo.
Iniciou-se com uma tontura e não conseguia sequer ficar deitado com tranquilidade. Tudo girava em torno. Ao tentar levantar-me, senti mais forte a tontura e minha mulher me levou ao hospital militar de Porto Alegre. Apenas a tontura me perturbava, pois estava plenamente consciente.
A espera para atendimento no hospital foi emblemática, pois, queriam me liberar e minha mulher não deixou, exigindo diagnóstico e exames para saber o que estava acontecendo, mas pelo menos me parece, perdi a consciência e quando voltei á vida, contaram-me, já na tarde de segunda-feira, que havia sido transportado de ambulância á Santa Casa e submetido a um processo de cateterismo cerebral para constar a extensão do que se aproximava ser um hemorragia cerebral.
Bom, na tarde de segunda feira já estava na UTI de emergência com um movimento muito grande de médicos e enfermeiros para todo lado perturbando o ambiente. Sentia uma forte dor de cabeça, que não me impediu de reclamar da “bagunça”dos atendentes. O posicionamento da cabeça me perturbava , pois sentia muita dor na nuca e modificando a posição, a dor acalmava e sumia, então era constante a troca de posição. Até um banho me deram e me fizeram a barba, que não estava tão grande. Não sei o que previam para mim….
Na terça feira me aconteceu o fato mais significativo: já na UTI, em certo momento, á tarde, meio desacordado, ouvi a voz de dois médicos ao lado da cama e um deles falou-“É, deu certo, ele acordou!”
Nesse exato momento, desacordado, eu estava num bosque muito lindo, um verde magnífico, como jamais havia visto, com arvores e flores muito verdes e outras coloridas, muito bonitas, sentado num banco conversando com outra pessoa. Essa pessoa, muito parecida com um treinador de vôlei do Flamengo, o Radamés, estava repassando toda minha vida e fez com que eu prometesse que iria cumprir tudo que combinamos.
Quando terminamos esse diálogo ele disse que eu voltaria e foi nesse exato momento que ouvi a conversa dos dois médicos relatada acima.
Não sei que medicação me foi aplicada e que impediu que eu entrasse num estado de coma irreversível!
A dor de cabeça foi passando e fui levado para um quarto sem antes receber muitos amigos, mesmo na UTI. Cheguei a mandar buscar em casa um sofá, tipo Cadeira do papai, para melhor me posicionar durante o dia.
Foi marcado novo cateterismo para 30 dias após, pois o que foi feito não apresentou nada de relevante. Apenas a hemorragia. Nenhuma lesão. Acompanhava meu progresso olhando a imagem de um relógio na UTI. Inicialmente essa imagem era dobrada e aos poucos foi se consolidando numa só. Todo dia pela manhã um médico fazia exercícios rápidos de visão comigo e com os braços e pernas.
Nos dias que se seguiram, já no quarto, fui ajudado por uma irmã, a Dulica, que é enfermeira e que me apoiou em diversas atividades. Mas não ocorreram fatos relevantes e fui me recuperando, particularmente da inatividade, caminhando nos corredores.
No dia do novo cateterismo, fui levado de ambulância, mas me recusei a fazer o exame. Já na maca, no hospital, pronto para receber o anestesista e o cateter, não quis fazer o exame. Estava respaldado pelo diagnóstico de uma conhecida que era médica neurologista nos EUA e recebeu as fotos do primeiro exame e questionou por que faria de novo o exame, muito invasivo, se o primeiro, a menos de 30 dias, nada havia acusado! Meu irmão, que era fotógrafo no Estadão, havia tirado fotos de todas as radiografias e mandou pela Internet para ela.
O caso é que retornando á Santa Casa, o médico militar literalmente me expulsou do hospital, depois de muitos xingamentos, me liberando sob minha total responsabilidade.
Desde aquele dia me sinto muito bem, mas tinha a absoluta certeza que não sairia daquela mesa durante o cateterismo e esse foi o real motivo.