EU E O MOVIMENTO DE 31 DE MARÇO DE 1964
Flavio M Pinto
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Flávio, não vais ao colégio hoje, estão brigando lá no Rio.
Assim minha mãe me
falou em 31 de março de 1964, pouco antes de levantar e dirigir-me ao Colégio
Estadual Prof Liberato Salzano Vieira da Cunha, Livramento, onde cursava a 2ª
série ginasial. Não entendi muito, mas gostei de não ter de ir á aula naquele
dia.
Com o passar do
tempo fui compreendendo o que ocorrera e, mais ainda, quando recentemente num
curso de Pós-graduação na UFRGS, um professor saiu com essa -“ ...eu como
marxista, tenho vergonha de reconhecer que os maiores avanços sociais se deram
nos governos militares....” A minha ficha já havia caído, pois, como estudante militar de 1969 a 1975, os
professores militares haviam me dado ferrramentas para poder distinguir muito
bem o que era bom ou não para o País que jurara defender com minha própria
vida.
O movimento
militar eclodido em 31 de março de 1964 foi uma forte reação da sociedade contra o estado de coisas
que reinava o país. Obviamente as Forças Armadas, historicamente partícipes da
formação e da integração nacional e acompanhadoras constitucionais da
conjuntura, foram literalmente empurradas para dentro do movimento e obrigadas
a tomar uma posição. Posição firme e decisiva colocando um ponto final na
aventura sindicalista.
Vivíamos em pleno
auge da Guerra Fria e, pela importância estratégica do Brasil, inevitável seria
o apoio incondicional de uma das duas potencias ao que ocorresse. O que na
realidade se temia, e que a Nação parece havia se dado conta, era a implantação
de um regime comunista. Mas seria mesmo implementado esse regime bem aos moldes
como propunha o Comintern? Seria o Brasil satélite da URSS?
Na atual fase
histórica que passa o País em que se deseja colocar a coisas nos seus devidos
lugares, pode-se afirmar, e é impossível negar, que seria instalado um regime
comunista com todos os requintes de violência da época. As ações dos grupos
integrados por militantes treinados no exterior não deixa margem a dúvidas,
assim como seu apoio incondicional, até hoje, aos países matrizes de sua
ideologia.
Grupos
paramilitares de ambos os lados, já identificados em 1963 pelo Gen Castelo Branco como óbices á
segurança interna, digladiar-se-iam num banho de sangue sem precedentes não
fosse a antecipação das Forças Armadas ás ações tentando reprisar com mais
violência o que ocorrera em 1935.
Sim, sem sombra de
dúvidas, ocorreria um banho de sangue muito ao gosto dos ensandecidos pelo
treinamento no exterior. E esta tentativa foi abortada, mas de forma muito
peculiar, muito afeita ao modo brasileiro de resolver suas pendências internas:
sem um tiro e a um custo em vidas extremamente baixo quando nos deparamos com
situações semelhantes em outros países do mundo. Deveu-se muito á ação da
Forças Armadas , que , ao contrário dos que desejavam implantar o marxismo á
força e subordinar o país á URSS como era praxe em movimentos daquela época,
desejavam um Brasil inteiramente nacionalista. E as políticas implantadas não
deixam dúvidas. Daí as expressões criadas- BRASIL ACIMA DE TUDO e AME-O OU
DEIXE-O, dentre outras. Mantinha-se a
filosofia de Floriano Peixoto de como
respondeu ao Embaixador inglês, quando perguntado sobre como o Brasil receberia
o apoio naval inglês para apoiar o Governo no combate á Esquadra na revolta de
1893.
“ A bala!” assim
se expressou o Consolidador da República.
Esse espírito não era o mesmo nos que
desejavam transformar o Brasil em barril de pólvora , em inúmeros Vietnam, e
espalhar o comunismo pela América do Sul. Já haviam procurado e obtido apoio
militar, político e material da matriz comunista, quando Luis Carlos Prestes,
em janeiro de 64 fora a Moscou apresentar a fatura do que, até então havia sido feito dentro dos planos de Kruschev
e Suslov para o Brasil.
Os governos que se
sucederam, inicialmente não possuíam planos de governo, mas logo implementaram
sistemáticas para alavancar o progresso do País elevando-o da 64º para a 8ª economia mundial. Os Planos
Nacionais de Desenvolvimento-PND, foram a mola mestra e eixo-guia do
desenvolvimento nacional. Contudo, não foi implantada uma ideologia diferente
daquela que desejava um BRASIL ACIMA DE TUDO, e as provas foram as condutas
distintas dos governos Castelo Branco-liberal e Geisel-estatizante. Ambos
tinham o propósito de dotar o país de uma infra-estrutura adequada ao seu
desenvolvimento momentâneo e futuro. Uma outra prova, foi o não-dirigismo
educacional permitindo que a classe derrotada no seu processo de comunização do
país dominasse as cátedras de Educação Moral e Cívica e iniciasse um processo
de revolução cultural bem ao estilo de Antonio Gramsci. Caso houvessem tomado o
poder e implantassem seu regime político permitiriam que seus adversários se
ocupassem da educação? Aliás, quem estudou ou estuda em escolas/universidades
públicas sabe bem o que é isso e, não
vem de hoje, a gritaria contra a lavagem cerebral gramciana das crianças. O
Rio Grande do Sul conhece bem isso.
A mídia engajada,
especialmente neste mês de março, prossegue com seus clichês contra o movimento
de 31 de março de 1964. Período negro da história, Anos de horror, Lembrai-vos
do entulho autoritário, Golpe militar, e por aí vai. Não sei quando tirarão a
venda dos olhos e reconhecerão os crimes que praticaram, seqüestros, assaltos,
assassinatos, roubos a banco e , um muito especial, remessa de jovens, muitos
imberbes e ingênuos, a lutar contra tropas militares treinadas.
Ocorreram excessos
após a ocupação do governo? Sim, como não poderia deixar de ocorrer num país de
dimensões continentais como o nosso em situações extremas, tais como as
proporcionadas pelo terrorismo praticado pelos grupos contrários ao regime
instalado e que tiveram sua ação freiada pelo movimento cívico-militar. O preço
pago foi extremamente baixo, embora reconhecendo que cada morte é um flagelo e
só Deus tem o poder de tirar a vida. Os
Atos institucionais nada mais foram do que reação governamental ante um estado
de coisas, onde a tolerância tinha um limite. E um limite muito distinto do
estereótipo de país que a esquerda desejava.
“ Um governo que
não se defende não merece ser governo”- frase de Luis Carlos Prestes após o fuzilamento de estudantes na Praça da Paz
Celestial nos dá uma pálida idéia do que seria.
O governo não se
dava ao luxo de impor uma ideologia aos seus jovens nem censurava os meios de
informação nesse sentido, cooperando para uma brutal operação de desinformação.
Tanto que as principais novelas eram escritas por comunistas notórios e
passavam sua mensagem carregada de ideologia. Teve perseguição política e
censura a imprensa sim, mas
particularmente na pornografia num caráter puramente messiânico, até ingênuo.
Mas chegará a hora
da verdadeira história, sem preconceitos e sectarismos, posicionar esse fato na
verdadeira dimensão que merece.
Quanto as Forças
Armadas, vale lembrar que o povo brasileiro não espera delas nada mais do que o
cumprimento da sua missão constitucional, mas sabe que, independente da
carência de recursos a que estão submetidas, estão atentas e alertas.
E Jango foi
literalmente apeado do poder por apoiar, patrocinar ou até fazer vista grossa
aos atos de parceiros seus à tentativa de desencadeamento daquela aventura, que
certamente ensangüentaria o país.
Flavio Martins Pinto é
militar da Reserva do Exército